By James Berson Lalane*
A disseminação da pandemia de COVID-19 no Brasil transformou a vida cotidiana em distopia. Até que a ciência encontre medicamentos adequados e uma vacina para o tratamento e prevenção da covid-19, o paradoxo de hoje é que todos devem cooperar com os outros e, ao mesmo tempo, auto isolar-se como medida protetora. No entanto, embora o distanciamento social seja bastante viável para os ricos, os migrantes aglomerados em favelas urbanas e campos de refugiados não têm essa opção[1].
Huri Paz, pesquisador da Universidade Federal Fluminense[2], também nos lembra esses dias, explicando por que não somos todos iguais, mesmo diante da infecção por coronavírus, os pobres pagam o preço mais alto. A pandemia de infecção por coronavírus de 2019 (covid-19) revelou as profundas desigualdades e dificuldades que enfrentam os migrantes, tanto em países dependentes quanto em países ricos.
A atual pandemia de SARS-CoV-2 representa um fator de risco para a saúde das populações (in)visíveis, e para os migrantes em particular, não apenas no que diz respeito à possibilidade de entrar em contato com o vírus, mas também com os possíveis resultados negativos de saúde associados às barreiras no acesso aos serviços de saúde. Um risco particularmente alto diz respeito a todos aqueles que vivem em condições de aglomeração, com dificuldades em se isolar e em manter o distanciamento social (por exemplo, em centros de acolhimento), ou em condições de falta de higiene e com acesso reduzido à água limpa (por exemplo em assentamentos informais). Visibilizar essas populações invisíveis poderia ajudar a reduzir a disseminação do vírus, com isso podemos monitorar o impacto da pandemia dentro dessas populações.
No Brasil existe uma escassez de dados sobre as comunidades migrantes dentro da sociedade, fato que vem se exacerbando no momento da pandemia. Desconhece-se o impacto da pandemia na população migrante no Brasil justamente porque a categoria Nacionalidade[3] não consta nos sistemas de informações da COVID-19 do Ministério da Saúde. A não inclusão dessa variável no momento da pandemia pode ter consequência na saúde e nas relações sociais, principalmente no que diz respeito à inclusão do migrante na sociedade. A ausência de dados sobre o estado de saúde da população de migrantes na sociedade brasileira, dificultará a implementação de políticas de saúde desse grupo da população.
*Sanitarista haitiano, formado pela Universidade Federal de Integração Latino Americana (UNILA), está no Brasil desde 2014, e atualmente é aluno da Pós-graduação do Departamento de Medicina Preventiva da Universidade de São Paulo onde conduz o estudo sobre “Migração e Saúde: haitianos no Brasil”. Em sua trajetória profissional como pesquisador, sempre trabalhou com a perspectiva da migração e saúde. Durante a pandemia, atuou no Núcleo da Vigilância Epidemiológica do Hospital das Clínicas de São Paulo, onde rapidamente notou a falta de dados nos sistemas informações em saúde sobre os migrantes que vivem na sociedade brasileira.
Notas:
[1]Artigo / Como o Covid-19 afeta imigrantes e refugiados no Brasil. Disponível em: https://www.migramundo.com/como-o-covid-19-afeta-imigrantes-e-refugiados-no-brasil/
[2]Artigo | As desigualdades sociais que a pandemia da covid-19 disponível em: https://www.brasildefato.com.br/2020/04/04/artigo-as-desigualdades-sociais-que-a-pandemia-da-covid-19-nos-mostra
[3] Associações e imigrantes pedem inclusão de nacionalidade nos registros do Ministério da Saúde Disponível em: https://www.migramundo.com/associacoes-e-imigrantes-pedem-inclusao-de-nacionalidade-nos-registros-do-ministerio-da-saude/
certo irmão
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