“Há de se comemorar a instalação do Fórum de Saúde da População Negra”.
Matheus Igor[i]
Há de se comemorar a instalação do Fórum Municipal de Saúde da população negra. Debater saúde da população negra, em uma quarta-feira à noite, com mais de 150 pessoas compondo o auditório e também conseguir congregar e mostrar a diversidade das negras em movimento, usando dessa diversidade como uma das forças motrizes de todo esse processo, consiste em uma iniciativa de extrema potencialidade e revela a necessidade e urgência do tema estar entre as pautas centrais das movimentações antirracistas e anticoloniais.
A atividade também consistiu na apresentação pública da Aliança Pró-Saúde da População Negra, que é mais um grande motivo a se comemorar. Essa iniciativa, que hoje congrega 10 coletivos antirracistas, que estão localizados em diferentes regiões e realidades da cidade de São Paulo, e que visa ampliar a mobilização em prol da saúde da população negra, além de pressionar o Estado para a real implantação da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, aprovada em 2003 pelo Conselho Nacional de Saúde e publicada apenas três anos depois.
Tratar do surgimento do Fórum e da apresentação da Aliança urge tratar do tema dos 10 anos de existência da lei nacional. E foi em suma, esse o tom da mesa de debate, com o tema “A saúde que temos e a saúde que queremos”, que consistiu, também, em uma das atividades da Instalação do Fórum Municipal de Saúde da População negra. Segundo O Professor Luís Eduardo Batista, da USP, em apresentação de parte de sua pesquisa, a política só foi efetivamente implementada em casos em que a sociedade civil esteve articulada para cobrar a implementação das políticas, em todos os contextos em que elas foram implementadas. Seja pela cobrança direta, seja por existir no local uma gestão comprometida com a pauta, o que também, no fim, deriva de articulação da sociedade civil.
Os indicadores sociais de saúde que foram apresentados pelos doutores durante a mesa redonda, são um dos principais reveladores da necessidade urgente de articulação civil em prol da saúde da população negra e da não implementação efetiva da política no município de São Paulo. Como disse Doutora Fernanda Lopes, da Niketche, a negligência com a saúde da população negra por parte do Estado constitui um dos pilares do projeto de extermínio da população negra perpetrado historicamente em nome de um projeto de estado nação eurocêntrico. A mesa tratou da importância de que as pessoas, os grupos e entidades antirracistas tratem desta questão: “O que é mais indigno morrer de tiro ou morrer querendo dar a luz?” Esse foi o questionamento deixado pela Professora Doutora Fernanda Lopes.
Para além das questões que são prejudiciais à saúde e vida das pessoas negras o Fórum, que será permanente, também tratou das vitórias da população negra diante o projeto eurocêntrico de sociedade: médicas, farmacêuticas, doutoras, Iyalorixás e Babalorixás, estudantes, artistas negras e unidas em prol da saúde da população negra, debatendo a partir das vivências e visões de mundo afro-brasileiras é uma cena emblemática, da qual essa Aliança é protagonista, depois de tudo que já fizemos juntos. Diversas organizações e pessoas se conheceram, trocaram experiências, fizeram contatos e esse movimento é fundamental para o fortalecimento de todas essas iniciativas, sejam elas antigas ou novas. Pudemos ver no Fórum, tal como na construção da Aliança Pró-Saúde da População Negra um processo que é de dimensões enormes. Por exemplo: religiosos e cientistas, trabalhando de forma horizontal em busca da melhora da saúde da população negra e esses são mais motivos que devem ser comemorados.
[i] estudante de geografia na USP, é membro da Aliança Pró-Saúde da População Negra. Contato: observatoriopopnegra@gmail.com